Acredita-se que nove em cada dez adultos com autismo não tenham um diagnóstico formal, segundo um novo estudo publicado no Annual Review of Developmental Psychology.
A pesquisa, realizada por cientistas do Reino Unido, sugere que uma grande parte da população autista, principalmente a mais velha, pode estar vivendo sem o suporte adequado de saúde e social.
A falta de diagnóstico tem sido um tema de crescente preocupação, com mais de 200 mil pessoas aguardando uma avaliação médica somente no Reino Unido.
Esse número reflete um recorde de cidadãos buscando ajuda, o que aponta para uma necessidade urgente de atenção e recursos para a saúde mental.
Por que tantos adultos vivem sem diagnóstico?
A pesquisa britânica analisou dados de registro de saúde e estimou que, entre adultos de 40 a 59 anos, 89,3% não foram diagnosticados. O número é ainda maior para pessoas entre 60 e 70 anos, chegando a 96,5%. Em contrapartida, apenas 23,3% dos menores de 19 anos estão sem diagnóstico.
Gavin Stewart, principal autor do estudo e especialista em autismo no King’s College London, comentou ao Daily Mail que “essas estimativas muito altas de subdiagnóstico sugerem que muitos adultos autistas nunca foram reconhecidos como autistas e não receberam o apoio adequado”.
Essa falta de suporte pode deixar esses adultos mais vulneráveis a problemas de saúde relacionados à idade, como isolamento social.
A camuflagem do autismo feminino
Especialistas também notam que muitas mulheres e meninas autistas acabam “camuflando” seus sintomas para se encaixar socialmente. Essa camuflagem pode incluir imitar sinais sociais, suprimir comportamentos autoestimulatórios (conhecidos como stimming) e ensaiar respostas programadas.
Esse esforço para se adaptar torna os traços autistas mais difíceis de serem identificados, o que pode explicar a alta taxa de mulheres autistas sem diagnóstico.
O estudo apontou que, entre adultos autistas de 40 a 59 anos, 91,5% dos homens e 79,4% das mulheres não foram diagnosticados. Para a faixa etária de 60 a 70 anos, os números são ainda mais alarmantes: 96,3% dos homens e 97,2% das mulheres.
A professora Francesca Happé, coautora do estudo, ressalta a importância de entender as necessidades de pessoas autistas mais velhas, pois é uma “preocupação urgente de saúde pública global”.
A urgência de um diagnóstico e suas consequências
Ter um diagnóstico é crucial para que pessoas autistas recebam o suporte necessário. A falta de acompanhamento pode levar a problemas de saúde mais sérios.
Os pesquisadores sugerem que pessoas autistas de meia-idade têm maior probabilidade de ter condições como doença de Parkinson, artrite e doenças cardíacas, e são mais propensas a se automutilar.
O estudo reconhece que as pesquisas sobre o tema, em geral, têm “sistematicamente ignorado uma grande proporção da população autista”, o que acaba distorcendo o entendimento sobre como essas pessoas envelhecem.
Isso cria lacunas críticas em políticas e serviços de saúde, tornando o apoio a essa população ainda mais complicado.
Para a maioria dos adultos, um diagnóstico tardio pode ser o início de um caminho para entender a si mesmo e ter uma melhor qualidade de vida.
NSC