A morte de Aylla Eloá, uma bebê de um ano e três meses de idade, está sendo investigada pela Polícia Civil do Paraná (PC-PR) e pela Prefeitura de Jaguariaíva, cidade da região dos Campos Gerais.
A bebê faleceu na noite de sexta-feira (4), após passar mal e ter atendimento negado horas antes, de acordo com a família, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade. O prefeito do município, Juca Sloboda (PL), admitiu que houve falhas no atendimento e disse que vai revisar os procedimentos da Secretaria Municipal de Saúde.
Nas redes sociais, a irmã da menina, Quézia Vitória, afirmou que a família procurou a UBS quando a bebê estava com um quadro de febre.
Segundo Quézia, além de terem o atendimento negado, os familiares não receberam orientações nem outro tipo de suporte, como medição de febre, triagem ou encaminhamento de uma ambulância, por exemplo.
"Disseram que lá não podia ser feito nada."
A família, então, a levou para o hospital municipal, e no caminho a criança sofreu convulsões. Horas depois, ela morreu durante atendimento médico.
A advogada Sylmara Fraga, que representa os pais da menina, afirma que a família também questiona a causa da morte que foi registrada oficialmente.
De acordo com ela, no atestado de óbito consta que Aylla teve uma crise de asma e pneumonia; no entanto, a criança nunca havia sido diagnosticada ou tido quaisquer sintomas relativos às doenças, garantem os pais.
"Aylla nunca foi internada, nem tinha qualquer problema de saúde. A família tem informações que uma suposta tentativa de entubação teria sido a causa da morte, por isso está requerendo a exumação do corpo", explica a advogada.
A morte, segundo a família
Ao g1, a irmã de Aylla disse que no dia em que faleceu, a criança acordou bem, passou a manhã brincando e após o almoço teve febre. Segundo ela, por volta das 16h, Aylla foi levada à UBS. Depois de ter o atendimento negado, foi para o hospital, onde chegou às 16h46.
"O hospital acionou o Samu às 19h39. O Samu chegou às 22h, e nesse tempo ela continuava convulsiva. Tentaram entubar, pois o Samu só leva se estiver entubada. A saturação dela estava entre 96%, 98%, e em alguns momentos 100%. Teve parada cardíaca, e o óbito foi às 23h18", afirmou.
Na quarta-feira (09) Quézia fez uma publicação nas redes sociais lamentando sobre o caso e criticando, também, o atendimento hospitalar, serviço mantido pelo município. Ela alega que, depois de dar entrada na instituição, a bebê ficou sete horas na instituição para um caso que, na avaliação dela, necessitava de transferência.
"Essa era a minha irmã, Aylla. Ela tinha 1 ano e 3 meses. Era saudável, cheia de vida, sorridente… uma bebê linda, agitada, feliz [...] Ela precisava de atendimento de um profissional que se importasse em salvar vidas, ela precisava de cuidado. Eu não consigo explicar essa dor."
Prefeito admite falhas, pede desculpas e promete mudanças de protocolos
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o prefeito Juca Sloboda admitiu que houve falhas por parte do poder público, mas não especifica quais. Na gravação, ele está junto com os pais da menina. O g1 optou por não expor a imagem do casal no vídeo para preservá-los.
"Falha teve. De atendimento, de procedimentos, de acolhimento. E nós não vamos jamais acobertar o que aconteceu. [...] Nós abrimos processo administrativo pela prefeitura e queremos punir quem realmente errou nessa história. Trazer a criança de volta a gente não vai conseguir, mas o que a gente quer é jamais repetir o erro, como aconteceu", ressaltou.
Em outro vídeo publicado, o prefeito, o secretário de saúde, Marlus Barbosa, e a coordenadora municipal de atenção primária, Anelise Juliani dos Santos, anunciam mudanças no atendimento à população.
Entre elas, está a montagem de um protocolo de acolhimento para as UBS, que deverá seguir um passo a passo no processo de atendimento; e a troca da coordenação das unidades básicas de saúde da área urbana.
"Estamos iniciando a implantação de um corpo técnico, enfermeira para ser mais específico, para o acolhimento nas unidades, inicialmente, na Domingos Cunha [onde a família de Aylla buscou atendimento] e no Central. A enfermeira vai ficar pronta e à disposição para fazer o acolhimento dentro das UBS", complementa o secretário.
No pronunciamento, o prefeito prometeu transparência em relação à sindicância aberta na prefeitura para apurar o caso de Aylla.
"A gente pede desculpas aqui, publicamente, à família, e pede desculpas, publicamente, à nossa população pelas falhas ocorridas no atendimento. Estamos trabalhando para corrigir essas falhas para que não aconteçam de jeito nenhum, nunca mais na nossa cidade", diz Sloboda.
Investigação da polícia
O delegado João Batista, de Jaguariaíva, disse ao g1 que, devido à repercussão do caso, instaurou o inquérito policial antes mesmo de a família da criança procurar a delegacia.
O pai e a mãe da criança prestaram depoimento à polícia na quinta-feira (10).
Até esta sexta-feira (11), o delegado intimou a funcionária da UBS que, segundo a família, negou atendimento à criança, e vai aguardar os próximos depoimentos para se manifestar sobre o caso.
O que diz a prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Jaguariaíva afirmou que assim que soube da morte, determinou a abertura de uma apuração interna. No texto, o município também diz que convocou profissionais da rede municipal de saúde para debater soluções e mudanças administrativas. Veja o texto completo abaixo:
"A Prefeitura de Jaguariaíva e o Hospital Municipal Carolina Lupion (HCML), com profundo pesar, lamentam o falecimento da criança ocorrido na última semana. Neste momento de dor, nos solidarizamos com os familiares, amigos e todos os que compartilham o sofrimento dessa perda. Informamos que já houve contato com a família, para a qual prestamos nossa solidariedade e apoio.
Destacamos que, tão logo tomamos conhecimento da situação, determinamos a abertura imediata de apuração interna para esclarecer todas as circunstâncias do ocorrido. Também está sendo acompanhada com prioridade a investigação das causas clínicas do óbito, que por respeito à família, ética e questões de justiça, serão tratados de forma restrita.
O que se pode esclarecer é que, cerca de 25 minutos após passagem pela recepção da UBS, sem consultar, às 16h41, foi dada entrada da paciente no hospital, sendo ela imediatamente levada à sala de emergência. Foram feitos os protocolos de estabilização pelos médicos e enfermeiros, que permaneceram prestando atendimento, sem fazer troca de plantão. Os médicos do hospital somaram esforços com os do SAMU, acionado para transferência ao suporte avançado, chegando a 6 (seis) médicos dando assistência. Lamentavelmente, a criança não resistiu, deixando toda a cidade comovida pela partida precoce.
Diante dos fatos, a gestão municipal está intensificando as providências necessárias e cuidando das documentações para ações concretas que fortaleçam nossa estrutura de saúde. De imediato, os coordenadores e responsáveis técnicos da rede municipal de saúde já foram convocados para reuniões em busca de soluções, e mudanças administrativas já estão acontecendo. Mais uma vez deixamos nossas condolências à família neste momento de dor e reafirmamos nossa luta para oferecer sempre o melhor aos cidadãos".
Fonte: G1