O tratamento de câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil enfrenta atrasos que ultrapassam os limites previstos por lei. Segundo levantamento do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, pacientes aguardam, em média, 50 dias para a confirmação do diagnóstico e 75 dias para o início do tratamento — acima dos prazos legais de 30 e 60 dias, respectivamente.
A demora pode ter consequências graves. O oncologista Gustavo Nader ressalta que o tempo é decisivo: “Quando o diagnóstico é tardio, a doença costuma estar mais avançada e a possibilidade de cura reduz consideravelmente.”
A experiência de Eliane, paciente da rede pública, exemplifica o problema. Ela esperou sete meses entre a suspeita de um nódulo e o diagnóstico de câncer de mama, e nove meses até a cirurgia para retirada do tumor. “Impotência muito grande. Eu estava de mãos atadas. Angústia muito grande. Dormia pensando, acordava pensando”, relata.
Especialistas apontam que os atrasos estão ligados à complexidade do tratamento e à organização do SUS. A sanitarista Gonzalo Vecina destaca que a estrutura do sistema depende da capacidade de financiamento do Ministério da Saúde, estados e municípios, mas que há falhas principalmente na oferta de estrutura adequada para diagnóstico precoce e tratamento.
Além disso, fatores como falta de especialistas, equipamentos insuficientes e processos fragmentados contribuem para que pacientes aguardem além do prazo legal. Estudos recentes indicam que quase metade dos pacientes não inicia o tratamento dentro do período previsto, o que aumenta o risco de casos avançados e encarece o atendimento.
A legislação vigente, Lei nº 12.732/2012, garante início do tratamento em até 60 dias após o diagnóstico. Apesar disso, os dados mostram que a realidade do SUS ainda está longe de atender a todos os pacientes de forma ágil e uniforme.
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