Na região que concentra a maior produção leiteira de Santa Catarina, a Epagri investe na capacitação dos jovens e na sustentabilidade para tornar essa cadeia produtiva ainda mais forte. Os Cursos de Bovinocultura de Leite à Base de Pasto já formaram mais de 500 jovens rurais no Oeste Catarinense desde 2018, levando melhorias para dentro das propriedades e tornando-as mais atrativas para a sucessão familiar.
Ao longo das aulas, os jovens aprendem a adotar o modelo difundido pela Epagri como o mais sustentável e rentável para produzir leite em Santa Catarina. As aulas tratam sobre implantação e manejo de pastagem, manejo e conservação do solo, nutrição de bovinos, criação de bezerras e novilhas, parâmetros técnicos e econômicos da produção, bem-estar animal e cuidados sanitários.
A capacitação é gratuita e foi planejada para facilitar a participação dos jovens que trabalham com leite e não podem se ausentar por muito tempo de suas atividades. São nove encontros mensais, entre março e novembro, com duração de um dia. Cada encontro tem aulas teóricas e atividades práticas, que são realizadas em propriedades modelo atendidas pela Epagri, conhecidas como Unidades de Referência Tecnológica (URT).
Região estratégica
A iniciativa nasceu no Extremo Oeste Catarinense, mas já se expandiu para o Oeste e o Meio Oeste. Em cada município, as atividades são viabilizadas em parceria com prefeituras, cooperativas, bancos, sindicatos, casas familiares e órgãos ligados ao setor.
Essa área de abrangência é estratégica para a produção de leite em Santa Catarina, que preserva, na agricultura familiar, a principal força que move o setor. De acordo com a Epagri/Cepa, o estado é o quarto maior produtor nacional de leite: em 2023, totalizou 3,2 bilhões de litros. As regiões Extremo Oeste, Oeste e Meio Oeste respondem por mais de 70% desse volume.
Porteira adentro
É no curso que os jovens conhecem as tecnologias, mas é dentro das porteiras que a transformação acontece. Por isso, os alunos recebem visitas e acompanhamento dos extensionistas da Epagri, que ajudam no planejamento da propriedade e na adoção das melhorias no processo produtivo.
A Epagri também elabora os projetos de crédito para que os jovens formados no curso acessem políticas públicas. Apenas em 2024, 152 jovens foram beneficiados com R$2,5 milhões em financiamentos para melhoria e implantação dos sistemas produtivos, acessando recursos dos programas Realiza, Kit Forrageiro, Água para Todos, Financia Leite, Kit Informática, Investe Agro e Pronampe Leite.
Assim, ano a ano, o cenário da principal bacia leiteira de Santa Catarina vai se transformando. As áreas de pastagem ficam mais abundantes, com espécies perenes, e são divididas em piquetes, com água e sombra das árvores para o conforto do rebanho. O pecuarista vê as mudanças se refletindo em produtividade e lucro, enquanto a propriedade se torna mais sustentável, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e melhorando a qualidade do solo.
A decisão de ficar
Essa transformação aconteceu na propriedade da família de Jean Hoffmann, em Cunha Porã. Depois de participar das capacitações da Epagri, ele percebeu que seu futuro estava na produção de leite e decidiu ficar na propriedade dos pais. Jean fez o primeiro curso em 2016 e participou de mais três nos anos seguintes. Com esse conhecimento, transformou uma área de produção de apenas 6 hectares em um negócio rentável.
A grande “virada de chave” aconteceu na alimentação dos animais. “A gente usava pastagens anuais e silagem. As vacas iam para o pasto apenas uma vez ao dia e não tinham alimento suficiente. Agora, com as espécies perenes, sempre sobra pasto e a nossa produção de leite triplicou”, conta o produtor.
Antes das mudanças, a propriedade tinha uma média de 8 a 10 vacas que produziam 80 a 100 litros por dia. Hoje, o sistema comporta 25 vacas em lactação, produzindo 300 a 350 litros por dia. “Com a Epagri, eu aprendi que não é preciso ter uma propriedade grande para ter uma renda boa”, reforça Jean.
Para alimentar o rebanho, o pecuarista usa duas espécies de pastagens perenes: BRS Kurumi e Tifton 85. No inverno, quando essas variedades reduzem o crescimento, Jean faz sobressemeadura com aveia e azevém e garante o pasto na época de vazio forrageiro. A área de pastagem é dividida em piquetes, com água e sombra, e manejada para que os animais sempre tenham alimento fresco e em boa quantidade.
Para construir estruturas como piquetes e sala de ordenha, Jean acessou diversas políticas públicas com ajuda da Epagri. Os recursos dos programas de apoio permitem fazer investimentos contínuos na propriedade desde 2016. “Muitos jovens largam a agricultura porque não têm incentivo, mas a Epagri dá todo o apoio que a gente precisa para ficar”, destaca.
Conhecimento para crescer
Munindo os jovens de conhecimento, a Epagri está mostrando novas possibilidades para permanecer no campo. “O trabalho realizado pela Epagri traz confiança para os jovens e permite que eles desenvolvam sua capacidade empreendedora”, diz o extensionista da Epagri Jean Pierre Pilger.
Dentro desse contexto, os cursos de Bovinocultura de Leite à Base de Pasto realizados no Oeste Catarinense complementam um trabalho bem mais abrangente. A Epagri realiza, desde 2012, cursos completos para jovens rurais em seus 13 Centros de Treinamento distribuídos pelo Estado, com alternâncias que duram de três a quatro dias. O Curso Ação Jovem Rural e do Mar já formou mais de 3,2 mil jovens que estão construindo carreiras promissoras e impulsionando diversas cadeias produtivas de Santa Catarina.
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