O consumidor brasileiro pode se preparar para pagar mais caro pela carne bovina em 2026. A previsão é de analistas do setor, que apontam uma combinação de fatores que devem pressionar os preços para cima no próximo ano.
A situação atual é reflexo de um movimento iniciado há dois anos, quando, diante de uma maior demanda por carne, os pecuaristas intensificaram o abate de fêmeas. Essa prática gerou um efeito em cadeia no ciclo pecuário, que agora impacta diretamente o bolso do consumidor.
Quando há o abate de muitas fêmeas, diminui-se a capacidade de reprodução do rebanho, o que leva à escassez de bezerros no mercado. Com isso, o preço desses animais sobe, muitas vezes superando o valor do boi gordo. Isso também eleva o chamado ágio de reposição — a diferença entre o custo de um animal jovem e o de um pronto para o abate.
Em 2026, a tendência é que os pecuaristas passem a reter mais fêmeas nos pastos para recompor o rebanho, reduzindo ainda mais a oferta de carne no mercado. Paralelamente, a demanda por carne bovina segue aquecida tanto no Brasil quanto no exterior.
“A gente tem uma demanda aquecida pela carne bovina brasileira. Havendo renda, essa carne ficando acessível, vai ter demanda e o pessoal vai fazer fila no açougue. Só que a demanda por carne bovina também está aquecida no setor externo. O Brasil também tem o preço em dólares muito competitivo frente a outros concorrentes. Demanda mais aquecida que oferta tende a criar uma pressão na alta dos preços”, explica Felippe Serigati, pesquisador da FGV Agro.
Nos últimos 12 meses, o preço da carne acumula alta de 5%, ligeiramente acima da inflação. Em um açougue ouvido pela reportagem, a picanha — corte tradicional em churrascos de fim de ano — já teve aumento de pelo menos 15%.
O comerciante Leonardo Teixeira relata que a alta atinge vários cortes nobres. “Principalmente a carne para churrasco, como alcatra e contrafilé, essa está difícil. A gente estava pagando R$ 28, R$ 38 na semana passada. Hoje, eu vou comprar, se achar, R$ 42, R$ 43 o quilo. E isso para passar para o consumidor chega a que preço final? Aí vai chegar o contrafilé hoje a R$ 68, R$ 70 o quilo”, afirma.
