A agropecuária representa cerca de 35% do Produto Interno Bruto (PIB) do Paraná, segundo a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.
Para que o setor produza, é necessário a preservação da floresta amazônica e da Mata Atlântica. Essa ligação se dá por causa dos chamados "rios voadores", que garantem o equilíbrio e as chuvas na região.
Segundo o biólogo norte-americano Philip Fearnside, a quantidade de água transportada pelos rios voadores é maior do que a vazão do Rio Amazonas, que tem uma média de 210 milhões de litros por segundo.
Rios voadores e o caminho da água
Os rios voadores fazem parte de um fenômeno traduzido pelo caminho que as águas fazem.
A pesquisadora Thabata de Macedo explica que a água que evapora do oceano é levada pelo vento, em forma de chuva, para a floresta amazônica, onde a vegetação absorve a água e a devolve aos poucos para a atmosfera, transformando-a em grandes nuvens.
"São nuvens muito convectivas, de formação muito rápida, que acontecem ao longo de todo o ano. Elas precisam de muito calor e muita umidade, e nós temos isso daqui de sobra dentro da Amazônia", afirma.
Essas nuvens saem da região da Amazônia e são carregadas em direção aos Andes, onde não conseguem passar a cordilheira e mudam de rumo, indo em direção ao Sul do Brasil.
O cientista Philip Fearnside explica que isso ocorre por conta da rotação da Terra, que causa os ventos predominantes de Leste para Oeste.
Ao chegar na região onde está o Paraná, a água é absorvida pela Mata Atlântica, que funciona como uma espécie de reservatório desta água.
"Tem uma relação muito importante entre esses dois biomas, porque essa água que vem dos rios voadores mantêm a Floresta Atlântica. Se não tivesse essa chuva, não seria uma floresta tropical, essa é uma coisa que afeta a floresta", afirma Fearnside.
Sul e Sudeste poderiam ser áridos
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No globo, ao longo do Trópico de Capricórnio há três desertos: da Austrália, da Namibia, e do Atacama no Chile — Foto: Artes/RPC
Estudos indicam que as regiões Sul e Sudeste do Brasil, cortadas pelo Trópico de Capricórnio, não têm clima árido por conta da existência da Amazônia.
No globo, ao longo do trópico há três desertos: da Austrália, da Namibia, e do Atacama, no Chile, como explica a pesquisadora Rosária Rodrigues.
"Se a gente tira essa floresta, fica esse déficit, então, não seria favorável para a nossa vida, de um modo geral, para a agricultura, para a economia, para o nosso bem estar. Não seria nada favorável sem esses componentes de balanço da América do Sul", afirma.
Equilíbrio em risco
O biólogo Philip Fearnside reforça que o equilíbrio ambiental proporcionado pelos rios voadores está em risco.
Entre 2022 e 2023, a Amazônia perdeu 6.359 mil quilômetros quadrados de floresta, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Isso pode fazer com que os rios voadores percam força.
"Se perder a floresta, sobretudo a parte oeste da Amazônia, que recicla a água antes de chegar lá, obviamente é um suicídio para o Brasil, e estamos indo para essa direção", alerta Fearnside.
Por conta disso, o cientista reforça a necessidade da preservação da floresta amazônica para a manutenção das grandes cidades e da agropecuária brasileira.
Entre as ações urgentes, conforme Fearnside, está o combate ao desmatamento. Porém, para o pesquisador, a tendência que se segue pode levar a um colapso ambiental.
"Sendo o desmatamento legal ou não legal não importa para o clima. A árvore derrubada, queimada, etc, tem o mesmo impacto, sendo legal ou não. A promessa de fazer zero desmatamento ilegal é muito enganadora. Tem duas maneiras de fazer isso: uma é parar o desmatamento, e outra é simplesmente legalizar o que está acontecendo. Essa é a tendência", afirma.
G1/Paraná