Apesar de empolgante, mudanças de domicílio envolvem, obrigatoriamente, disposição, organização e preparação mental e emocional. Para muitos, inclusive, desapegar de um ambiente repleto de memórias e amigos é um desafio.
A decisão não é considerada como algo prazeroso e revigorante para muitos, já que as emoções variam de acordo com a motivação, o tipo de pessoa e a fase da vida em que ela se encontra. Para os animais, isso não é diferente.
Por serem territorialistas, os felinos se sentem vulneráveis e ameaçados quando não estão familiarizados com o ambiente.
Qualquer mudança no dia a dia pode impactar diretamente no bem-estar deles, já que estes adoram uma rotina bem organizada. Eles sempre escolhem um móvel favorito, um lugar perfeito para relaxar, um momento do dia para se alimentar, tudo ordenado e em seu devido lugar.
“Mudanças podem afetá-los, mas não porque eles são apegados à casa e não aos donos. Os felinos de modo geral, em especial os gatos, são presa e predador. Eles precisam ter controle do ambiente. Quando você muda o ambiente bruscamente, ele se sente completamente inseguro, não sabe mais onde vai comer e se está correndo algum risco no ambiente, e é isso que gera um grande desconforto”, esclarece Paulo Pinto, adestrador comportamental da Cão Cidadão, com especialização em gatos e animais exóticos.
Por isso, o controle da nova área é essencial. Dedicar algum tempo do dia para o pet, até ele se habituar, o que deve demorar em torno de 10 dias, pode ajudá-lo a ganhar mais confiança. Promover brincadeiras e tentar manter a rotina dele o mais próximo possível da anterior são práticas indicadas.
Com a troca de ambiente, é comum que os bichanos tentem explorar o novo espaço, principalmente aqueles que já apresentam tendência a sair de casa, não são castrados ou que naturalmente são liberados pelos tutores para saírem nas ruas. Por isso, o cuidado deve ser redobrado.
“Umas das coisas que fazem os gatos fugirem de casa é o fato deles não serem castrados, então, em especial machos, saem para tentar procriar e ai, se eles estão em um local novo, no cio - que é quando ele emite aquele miados bem agudos - ele vai estimular outros a se juntarem a ele. Por isso, quando a castração é realizada diminui essa tendência”, alerta.
Independente de se tratar de uma casa ou apartamento, o especialista destaca a importância da implementação de telas no local antes mesmo da mudança.
“Em apartamentos é algo muito mais óbvio porque as pessoas se preocupam com o fato do gato morrer, agora, em casas vale a pena colocar grades inclinadas para dentro e, durante algum tempo, não deixar ele ter acesso ao quintal sem supervisão, porque ele pode se assustar com qualquer som e sair”.
É possível adotar medidas antecipadas para ajudar na mudança?
Antes de se mudar de forma definitiva, é interessante preparar o ambiente, ou seja, levar os principais pontos de referência.
Mesmo que queira alterar a caminha do animal, a caixinha, o espaço para ele brincar, subir e descer, é necessário levar direcionadores, principalmente os olfativos - cheiros específicos que irão ajudá-lo a se orientar, identificar ou lembrar-se de algo.
“A caminha não deve ser lavada, ela deve ficar com o cheiro do gato. A caixa de areia - em que ele costuma fazer cocô e xixi - também é legal que não seja completamente lavada no dia da mudança, ou seja, tire cerca de 90% da areia, mas deixe uns 10%. É importante levar a caixinha de areia, manter o mesmo substrato, manter a mesma caixa, e depois, que ele já estiver habituado, ir realizando trocas aos poucos”, ressalta Paulo Pinto.
Por serem animais hábeis em esconder dores e comportamentos de sensibilidade, os animais também devem ser submetidos a um check-up, principalmente se forem mudar de cidade ou estado. O tutor ainda deve verificar se é necessário ou não transportá-lo de guia.
A adaptação a caixa de transporte, por sua vez, deve ser promovida com um período de tempo maior e de forma mais “cuidadosa” do que a realizada com um cachorro.
“Antes da mudança, ele pode pegar a parte de baixo da caixa e colocar só a caminha dele lá, e na hora de dormir, de dar o petisco ou comida úmida, tudo deve passar a ser feito lá, primeiramente sem fechar a porta e depois a fechando, o deixando lá durante algum tempo”, acentua.
Durante o transporte, por alguns gatos ficarem desesperados com a passagem de luz de outros veículos pelo dele, principalmente quando a viagem ocorre a noite, os tutores podem optar por adicionar um pano mais grosso para cobrir a caixa, para evitar que eles fiquem vendo luz e se mantenham tranquilos.
Quais os cuidados após a mudança?
De acordo com o especialista, os tutores devem ficar atentos se:
- está ingerindo a mesma quantidade de água;
- está comendo a mesma quantidade de antes;
- continua disposto a brincar.
Caso o tutor não constate esses fatores, a indicação é para que uma ida ao médico veterinário seja realizada assim que possível com o objetivo de entender o que está acontecendo.
De acordo com o adestrador comportamental, quando os humanos vão se mudar e adquirir uma nova casa, se pudessem, o fariam apenas com a roupa do corpo e tendem a fazer o mesmo com os seus bichinhos, o que não é indicado.
“Isso é horrível, porque eles não entendem porque mudar se a casa estava boa, não entendem para onde vão e onde estão as coisas dele”, expõe o adestrador comportamental.
Durante o período de adaptação, os feromônios sintéticos, substâncias químicas produzidas em laboratório que imitam os feromônios naturais e são responsáveis por transmitir mensagens entre os felinos, também podem ser grandes aliados.
Adquiridos em lojas especializadas em pets, são colocados em tomadas, funcionando de forma semelhante a um inseticida, mas sem deixar cheiro: “Ele acalma os gatos, com um cheirinho subjetivo de ‘está tudo em paz’, ‘está tranquilo’, ‘estou entre amigos’”.
No entanto, é importante procurar auxílio de um profissional especializado em comportamento de felinos para receber orientação sobre qual ou quais feromônios devem ser usados, se for o caso, e qual a maneira correta. A adaptação após uma mudança é um desafio, mas com a ajuda de profissionais especializados pode ser mais fácil e rápida, colaborando para o bem-estar dos animais e do lar.
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