O beltronense Lucas Felype decidiu mudar radicalmente de vida e embarcou em uma jornada que ele próprio descreve como “radical”: deixou o Brasil para integrar a Legião Internacional que atua ao lado das forças armadas da Ucrânia na guerra contra a Rússia.
A decisão foi tomada após um momento difícil, marcado pela perda da mãe, vítima de câncer, no fim de 2023. “Eu morava com ela, e com a separação dos meus pais, sempre fomos muito próximos. Depois da perda, me senti muito sozinho, sem propósito. Estava questionando o sentido da vida, do trabalho, da rotina. Foi aí que pensei: por que não?”, relatou Lucas.
O processo de ingresso na Legião Internacional começou com uma inscrição online. Duas semanas depois, ele começou a receber e-mails oficiais com instruções do governo ucraniano. “No começo achei que fosse golpe, mas tudo batia com os dados das Forças Armadas da Ucrânia. Logo depois, recebi a designação de batalhão e o contato de um recrutador”, contou.
Após a entrevista inicial, Lucas decidiu seguir adiante. Vendeu o que pôde, contou com apoio psicológico e conseguiu levantar cerca de R$ 25 mil, valor utilizado para passagens, equipamentos e mantimentos. A viagem incluiu conexões por Madri, entrada pela Polônia e travessia da fronteira com a Ucrânia a pé.
Já em território ucraniano, ficou abrigado temporariamente em uma escola e depois foi levado a Lviv, onde recebeu documentos de identificação. “O choque cultural é imenso. Nunca tinha saído do Brasil, nem andado de avião. Era tudo novo pra mim.”
Lucas iniciou o treinamento militar, cujos detalhes não podem ser revelados por motivos de segurança. “Aqui tudo é muito rigoroso. Não podemos postar fotos ou vídeos, porque os russos monitoram tudo. Uma simples imagem pode revelar nossa localização. Dois ucranianos fizeram uma live no TikTok e, pouco depois, um míssil caiu na região”, afirmou.
Apesar de nunca ter tido contato com a vida militar, Lucas afirma ter se adaptado à nova rotina. “Sempre fui ligado a jogos e computador. Nunca imaginei estar com uma arma na mão, passando noites em trincheiras. Parece coisa de filme.”
O contrato firmado é de seis meses. Nos três primeiros, ele permanece em treinamento e recebe 20 mil hryvnias por mês. Depois, o salário sobe para 120 mil hryvnias (cerca de R$ 15.600), além de bonificações por missão cumprida, que chegam a 10 mil hryvnias (cerca de R$ 1.300).
Ao fim do contrato, é possível renová-lo por três meses, seis meses ou um ano. Durante esse período, o passaporte permanece retido.
Mesmo diante dos riscos e das incertezas, Lucas acredita que está vivendo um recomeço. “Mesmo que tudo dê errado, só de estar aqui já estou construindo minha própria história. Tem dias que estou correndo pro mato porque um míssil está vindo. É uma adrenalina que a gente só vê em filme. E eu estou vivendo isso.”
Por questões de segurança, ele evita registrar imagens da rotina. “Aqui, qualquer detalhe em uma foto pode custar vidas.” Lucas segue na Ucrânia e pretende permanecer até o fim do contrato.
Maiara Valdameri / Portal Tri com informações JdeB