Mais de quinze dias após a morte do Papa Francisco, aos 88 anos, a Igreja Católica inicia nesta quarta-feira, dia 7, o processo de escolha do novo pontífice. Com previsão de durar de dois a três dias, segundo estimativas de cardeais, o conclave atual deve ser breve — muito diferente daquele que, séculos atrás, se tornou o mais longo da história.
A eleição mais demorada ocorreu entre 29 de novembro de 1268 e 1º de setembro de 1271, após a morte do Papa Clemente IV. Foram dois anos, nove meses e dois dias de vacância papal, um período marcado por impasses políticos, disputas internas e grande insatisfação popular. O episódio histórico aconteceu em Viterbo, na Itália, e resultou na eleição de Tebaldo Visconti, um arquidiácono de Liège que, à época, sequer era sacerdote. Quando finalmente aceitou o cargo e foi coroado, adotou o nome Gregório X.
Visconti estava na Palestina quando foi escolhido e só chegou à Itália no início de 1272, sendo coroado em Roma em 13 de março do mesmo ano. Apesar de inexperiente na Cúria, possuía amplo conhecimento das questões políticas europeias e do Oriente Médio. Sua condução firme e voltada à unidade dos cardeais marcou o início de uma nova fase na história da Igreja.
A lentidão e o caos do processo eleitoral que o elegeu motivaram Gregório X a reformular as regras para a escolha dos sucessores de Pedro. Durante o Segundo Concílio de Lyon, em 1274, ele promulgou a constituição Ubi Periculum, que instituiu oficialmente o sistema do Conclave, impondo o isolamento dos cardeais em local fechado até a definição do novo Papa.
As novas regras incluíam medidas drásticas para forçar uma decisão rápida: restrição progressiva de alimentos, corte de salários dos cardeais e confinamento rigoroso. Foi também a primeira vez em que se usou formalmente a palavra “Conclave” para descrever o processo eleitoral papal.
Mais de sete séculos depois, muitas das normas estabelecidas por Gregório X continuam influenciando a legislação atual da Igreja. A constituição Universi Dominici Gregis, promulgada por João Paulo II, manteve o princípio do isolamento dos cardeais em locais específicos, como a Casa Santa Marta, e definiu os procedimentos em caso de atrasos ou irregularidades.
Hoje, o Colégio de Cardeais é composto por 252 membros, dos quais apenas 135 — os que têm menos de 80 anos — poderão participar da escolha. Para ser eleito, um candidato precisa de pelo menos dois terços dos votos, ou seja, ao menos 90 votos, considerando o número atual de eleitores. São permitidas até quatro votações por dia: duas pela manhã e duas à tarde.