A fuga de Nelson Bárbara da unidade dois da Penitenciária Estadual de Londrina (PEL 2), que completa um ano nesta segunda-feira (13), pode ter sido facilitada por um policial penal. O Departamento de Polícia Penal do Paraná (Deppen) disse que uma sindicância investiga o caso.
Documentos oficiais obtidos com exclusividade pelo g1 revelam bastidores da fuga e mostram que o detento foi retirado da galeria onde estava sem a autorização da direção da penitenciária.
Condenado por homicídios e roubos praticados principalmente na zona rural do município, Bárbara escapou pulando o muro da unidade e seguiu para uma região de mata, de onde nunca mais foi visto.
O homem é condenado a uma pena superior há 122 anos, mas, segundo a Vara de Execuções Penais (VEP), cumpriu apenas 15% dela.
Detento foi retirado de área de trabalho da unidade
Um ofício assinado pelo diretor da PEL 2 dois dias após a fuga indica que Bárbara trabalhava na área de artesanato, mas foi retirado do local por um policial penal para servir a alimentação dos outros presos, sem a permissão dos superiores.
No documento, a direção descreve que "não houve o devido acompanhamento por parte do policial penal escalado na galeria na realização do serviço, pois o apenado (Nelson Bárbara) empreendeu fuga através da guarita de sol, que tem seu acesso por um portão do corredor".
O mesmo documento cita que não houve arrombamento deste portão no corredor por onde o detento teve acesso a guarita de sol.
"Não foram encontrados sinais de arrombamento no portão, nem que ele tenha sido forçado".
Conforme o diretor, "a responsabilidade do fechamento e abertura do portão são de responsabilidade do agente" que acompanhava Bárbara.
A fuga
Fotos das gravações das câmeras, também incluídas no ofício, flagraram como Nelson Bárbara fugiu.
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Câmeras de segurança flagraram como Nelson Bárbara fugiu — Foto: Reprodução
Ele anda pelo telhado, quebra uma telha e cai em uma sala.
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Câmeras de segurança flagraram como Nelson Bárbara fugiu — Foto: Reprodução
Em outra imagem, o suspeito aparece pulando o muro e acessando uma área ao lado da penitenciária, onde há uma propriedade rural.
Gravações foram analisadas
Com base em análise de imagens do circuito interno do presídio, a direção afirmou no mesmo documento "que o momento da fuga passou despercebido pelos servidores que estavam na central de monitoramento".
Por conta da possível desatenção, "é verificada a possibilidade dos servidores estarem fora do posto de serviço aos quais estavam escalados no momento e após a ocorrência de fuga".
Sindicância
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Nelson foi condenado por assassinatos e roubos, na região norte do Paraná — Foto: Cedoc/RPC
Dias após a fuga, o Deppen anunciou a abertura de uma sindicância para investigar se houve facilitação de algum servidor na fuga de Bárbara.
Outro documento obtido com exclusividade pelo g1 mostra, no entanto, que a apuração só começou a valer de fato quatro meses após Nelson Bárbara escapar da PEL 2, em 21 de junho de 2022.
Segundo a portaria de instauração da sindicância, os servidores escolhidos inicialmente para a investigação interna tiveram problemas de saúde e não puderam participar dos trabalhos, culminando na formação de outra comissão.
O que dizem as autoridades
Em nota, o Deppen disse que a sindicância resultou na abertura de um processo administrativo disciplinar contra um policial penal, que foi transferido da PEL 2. Confirmou, também, que o remanejamento não tem ligação com a fuga.
A Polícia Civil disse em nota "que conduz inquérito para apurar as circunstâncias da fuga e se houve algum tipo de facilitação. A investigação encontra-se em andamento".
G1PR